O desenho de um avestruz sisudo, segurando um trabuco e um escudo oval com o cruzeiro do sul, sobre nuvens e sob o tiro de antiaérea entrou para a história como símbolo do 1º Grupo de Caça (1º GAVCA) da Força Aérea Brasileira (FAB), que teve sua criação e atuação durante a Segunda Guerra Mundial. O autor do desenho, o capitão Fortunato Câmara adicionou um toque especial, um grito de guerra, o famoso “Senta a Pua”.
Mas será que os pilotos brasileiros fizeram justiça ao grito de guerra e sentaram a pua nos inimigos? Sem maiores discussões, a resposta é sim. Há 80 anos, em 22 de abril de 1945, isso ficou marcado como o dia em que houve o maior número de missões para o grupo totalizando 11, quando a média diária era de duas entre janeiro e abril, segundo os registros oficiais.
A aeronave era o potente P-47 “Thunderbolt”, que voava em formação com quatro aviões por esquadrilha, na seguinte composição: comandante, ala, líder do 2º elemento e ala do 2º Elemento. Essa estrutura fazia parte da doutrina empregada pelo americanos e passada aos brasileiros após intenso treinamento no EUA e Panamá.
Foi justamente nesse período de adestramento que os brasileiros ganharam ou assumiram o apelido de avestruz, pois entre os homens havia o ditado que “só tendo estômago de avestruz para aguentar o menu deles (americanos)”. A mais famosa reclamação diz respeito a mistura do feijão com açúcar, sopa com abacaxi, ovo em pó, entre outras combinações um tanto estranhas para o gosto brasiliano.


E o Senta a Pua, onde se encaixa nessa história? No livro, “Esta é uma historinha que conta como vovô virou avestruz”, escrito pelo próprio Fortunato Câmara, tem muitos detalhes em torno desse símbolo, mas não deixa claro como se deu a escolha do grito de guerra, apenas que se inspiraram nos franceses que adotaram ainda na primeira guerra o “À La Chasse” e o “Tally Ho!” que americanos aprenderam com os ingleses, alertando os companheiros quando viam um avião inimigo.

Há algumas versões interessantes para a escolha do grito de guerra. Uma delas diz respeito a fazer furos com a ferramenta do arco de pua, uma metáfora comparando os furos de balas nos inimigos. A segunda e mais aceita, confirmada pelo comandante Nero Moura, é que a expressão seria natural do Nordeste e comumente utilizada pelos vaqueiros quando esporavam os animais montados, ou seja, significa literalmente espetar ou cutucar com intuito de andar mais rápido ou seguir em frente. No fim das contas, seria um código para atacar, um “vamos embora” ou até mesmo “ramo si bora”.
De acordo com o site Jambock, que cuida em preservar a história do 1º Grupo de Caça, o termo “Senta a Pua” era utilizada pelo 1º Ten. Av. Firmino Ayres de Araújo, da Base Aérea de Salvador e, vindo dessa mesma base, o então Ten. Av. Rui Barbosa Moreira Lima foi quem introduziu a expressão no cotidiano do grupo.
A expressão foi ganhando força e, simbolizada pelo avestruz criado pelo Cap. Av. Fortunato Câmara de Oliveira, chegou à Itália como sinônimo de fazer algo com decisão. “Hoje à noite vou sentar a púa no clube!”. “Senta a púa, que você está atrasado!”. Ou então ouvia-se pelo rádio, durante um ataque: “Estou vendo uma locomotiva!”. “‘Senta a Pua”‘, respondia o líder, e em instantes o alvo era reduzido a destroços pelos P-47 Thunderbolt do 1º GAvCa.
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