A Ribeira, bairro da zona Leste de Natal, sempre foi marcada pelo histórico boêmio e importância comercial, como o primeiro bairro do tipo na cidade. Ao longo de décadas, abrigou grandes galpões de estocagem de pescado, algodão e mantimentos, e suas ruas sempre foram caracterizadas pelas portas de lojas, dos mais diversos segmentos, seja de bares, lanchonetes, ferragem, antiquários, entre outras dezenas.
Contudo, neste post queremos abordar o aspecto da espionagem que no período da Segunda Guerra Mundial, rodeou a localidade. Principalmente, na Praça Augusto Severo, no cruzamento da Rua Doutor Barata com Travessa Aureliano, onde está de pé um grande sobrado, com térreo e dois pavimentos.

Atualmente, esse prédio beira ao abandono. Uma situação bem diferente dos anos 1940, quando ali ocupava um importante centro de informações da Marinha dos Estados Unidos, com forte ligação ao consulado, situado na Hermes da Fonseca. Trata-se do escritório local do “Naval Observer” (Observador Naval em uma tradução livre), que tinha por missão reportar ao comando militar as principais movimentações da cidade, sob o comando de Douglas Cook.
O observador naval Douglas A. Cook é mais um personagem que ganhou notoriedade na sociedade natalense devido a presença norte-americana no período da Segunda Guerra Mundial. Ele aparece repetidas vezes em documentos e textos entre 1942 e 1945, e substituiu Liewellyn Wimans (1941-1942) e Charles Gary (1942).
Oficialmente, o comandante Cook deveria ser um facilitador entre a sociedade civil por meio de autoridades como governador (interventor) e prefeito, e as forças armadas, no caso United State Navy (Marinha). Em 14 de abril de 1943, por exemplo, ele representou os EUA, ao lado do consul Harold Sims, na comemoração do Dia Pan-Americano na Rádio Educadora de Natal (REN), em programa dedicado à celebração dos povos do continente americano. Em outro evento, este noticiado no Correio da Manhã (RJ), em 25 de novembro de 1943, ele recebeu em sua residência na Avenida Rio Branco, 237, o ator de filmes de Hollywood e famoso pelo gênero velho oeste, Joel Mc Crea.
Extraoficialmente, Cook era na verdade um espião com autorização do Governo para atuar. Há relatos de que no prédio no Naval Observer, havia inúmeras antenas de comunicação e um movimento incomum de militares à paisana, que conduziriam investigações contra pessoas suspeitas. Em 3 de novembro de 1942, no Expediente Municipal de 27 de outubro, o próprio observador solicitou à Prefeitura, plantas atualizadas do Município de Natal, as quais foram autorizadas pelo despacho nº 3.822.
Contudo, pouco se sabe sobre o comandante Cook e o que teria acontecido com ele no pós-guerra. Contudo, uma passagem do livro “Natal, USA: II Guerra Mundial”, do autor Lenine Pinto, revela algumas considerações importantes, como disputas com o próprio General Walsh (comandante do United States Army Forces in South America) e sua estreita relação com os representantes do FBI na cidade.
Atualmente, os observadores militares atuam em região de conflito sob código de conduta da Organização das Nações Unidas (ONU) e suas resoluções, sobretudo no cumprimento de cessar fogo ou paz. Na época da guerra, quando não existia tal órgão, os observadores cuidavam realmente desse contato com as autoridades civis com objetivo de garantir o melhor funcionamento das bases militares, como aquisição de gêneros alimentícios e abastecimento.