Ataques, sabotagem e espionagem em Natal durante a guerra

Em 12 de agosto de 1941, segundo consta em memorando do vice-cônsul dos EUA em Natal, Harold Sims, destinado ao embaixador dos EUA, Jefferson Caffery, ocorreu um incêndio em Parnamirim, nas proximidades do hangar da Air France, onde tinhas dezenas de tambores com combustível de avião. Na ocasião alguns jovens foram detidos suspeitos de terem ateado fogo acidentalmente, apesar do vice-cônsul insistir em ato pensado com participação de italianos, baseados no hangar da empresa aérea Lati. Ambos os hangares coexistiam em Parnamirim, a 300 metros um do outro. Em mais um memorando, datado de 14 de agosto de 1941, o diplomata fala em outro incêndio ocorrido coincidentemente também no dia 12, desta vez no armazém base da Standard Oil, próximo às instalações da Base Naval, que à época estava em obras. Uma revelação chocante é que o autor do memorando afirmava haver uma bomba-relógio no local e examinada por ele em pessoa.

No dia 20 de agosto de 1941, em outro memorando Sims descreve uma visita que fez aos arredores do município de São José do Mipibu, mas especificamente no rio Trairi e lago Papari. Ele tinha o receio de alguma força inimiga fizesse um desembarque anfíbio em Tibau do Sul e se deslocasse pelo rio antes de um possível ataque pelo lado sul de Parnamirim Field.

“O Trairi é um rio sinuoso e profundo, mais no meio do canal é seguro para pequenos barcos do tipo motor de popa. Esta hidrovia fica a aproximadamente cinquenta quilômetros ao sul de Natal e provavelmente poderia ser usada com muita eficiência por um grupo de desembarque de navios como meio de se aproximar da Base de Parnamirim pela retaguarda. A região que circunda imediatamente o lago e o rio é uma região infestada de pântanos de lama espessa e profunda, absolutamente intransitável, e na maior parte desabitada, exceto por meia dúzia de mocambos solitários que pontilham a margem do rio aqui e ali. Nem o terreno nem o rio são adequados para aviões.” Vice-cônsul dos Estados Unidos em Natal, Harold Sims.

Atualmente, sabemos que uma invasão alemã no nordeste brasileiro vindo da África é algo impensável, do ponto de vista de logística e pela dificuldade de se deslocar por mais de 3.000 quilômetros de oceano. Contudo, nos anos 1940, o medo era real e motivo de preocupação entre militares e civis, é tanto que Natal vivia em treinamento constante, os chamados blackouts que apagavam as luzes da cidade e o toque de sirenes.

Entre 1941 e 1945, dezenas de cidadãos que viviam em Natal e nos arredores foram presos e centenas investigados, inclusive com a participação de agentes do FBI norte-americano. Um dos casos mais emblemáticos foi a prisão de um comerciante de origem alemã que chegou a ser processado, acusado de passar informações sobre o movimento dos aviões em Parnamirim, por mensagem de rádio criptografada, em que trocava os modelos de aeronaves por materiais de construção. Outro cidadão bem conhecido e que também foi processado, o cônsul italiano Guglielmo Letieri ficou marcado por muitos anos. Esses dois exemplos merecem uma postagem futura, inclusive vale explicar sobre a colônia penal agrícola João Chaves, localizada em Jundiaí, no município de Macaíba.

Contudo, um dos fatos mais graves e pouco comentado ou de conhecimento público aconteceu em 20 de abril de 1944, quando operários da Prefeitura do Natal se machucaram após a explosão de um artefato na Rua Nísia Floresta, na Ribeira. O relato é que se tratava de um objeto metálico que explodiu ferindo quatro pessoas ao ser manuseado, entre eles os operários Severino Santiago e Armando Trajano. Não encontramos outras informações sobre o acidente. Duas coincidências que chamam a atenção para este último fato é que cinco dias antes, no dia 15 de abril, houve um grave acidente aéreo próximo a Assu, em que um avião novo veio a cair sem causa aparente e no dia 19 do mesmo mês, outra explosão foi relatada no bairro da Ribeira, em uma oficina de reparos automotivos, matando um operário.