Especial FEB – Montese: A batalha mais difícil

Após a tomada de Monte Castelo, em fevereiro de 1945, os homens da Força Expedicionária Brasileira (FEB) conquistaram o reconhecimento e um maior respeito do Comando do Exército Aliado no front italiano da segunda guerra mundial. A tropa agora já tinha a experiência de uma força de ataque suplementar e protagonista, com feridas e perdas próprias, e o mais importante: a confiança de que era um exército forte, unido e eficaz.

Mas como na guerra sempre existe uma situação ruim que pode piorar, em 14 de abril surge o desafio Montese, o que viria a ser a batalha mais sangrenta e difícil para a FEB, na Itália. Entre fevereiro e abril, o inverno se mostrou um inimigo duro e complicador para ambos os lados, seja aliado ou alemão. Nessa condição, o alto do comando do IV Corpo do Exército determinou o reforço da defesa das posições ocupadas, sem avanços ou ofensivas contra aos postos alemães e apenas patrulhas de reconhecimento.

Foram dois longos meses para os brasileiros, pois apesar de parecer ser um trabalho tranquilo, houve diversas baixas entre mortos e feridos ocasionados por minas, armadilhas e alguns encontros com patrulhas inimigas que resultaram em confronto. Abril chegou e com ele a primavera, o que deu uma janela de bom clima que permitiu o deslocamento das tropas e blindados com maior facilidade. O V Exército Americano e o VIII Exército Britânico deram início a uma série de ataques, conhecida como “Ofensiva da Primavera”, o que seria o início da libertação da Europa das mãos dos nazistas.

Na primeira semana os ingleses realizaram alguns ataques exitosos, conquistando pontos estratégicos. Isso permitiu o avanço de outras tropas aliados, entre elas a brasileira. A missão dada à FEB era conquistar a cidade de Montese, uma vila localizada ao norte do Monte Castelo, distante apenas 5 quilômetros, como força de apoio à 10ª Divisão de Montanha. O plano do alto comando, assim como em Monte Castelo, era avançar e tomar o Vale do Pó e assim avançar no território central da Europa, rumo a Alemanha ou impedir a fuga do inimigo.

O comandante da FEB, o general Marscarenhas de Morais estava confiante, pois era a primeira vez que o contingente estava plenamente completo, com os regimentos de infantaria – 1º, 6º e 11º -, o pelotão de reconhecimento com uso de blindados e a artilharia. Morais chegou a comunicar comandante do IV Corpo do 5º Exército, o general Willis Crittenberger, que os brasileiros estavam à disposição.

Patrulha do sgt Max Wolf colorida com ajuda de I.A.

Sendo assim, em 12 de abril de 1945 foi ordenado os preparativos para o ataque, mas devido ao mau tempo, os homens tiveram que esperar mais um tempo. Às 9 horas, do dia 14 de abril, dois pelotões da FEB que patrulhavam próximo a Montese foram surpreendidos por tropas alemães, resultando em várias baixas, entre elas a do sargento Max Wolf, um dos mais valorosos e experientes combatentes brasileiro, até hoje reconhecido nas fileiras do Exército. No mesmo dia, às 12h, é determinado o ataque para tomar a região de Montese, com a FEB no flanco esquerdo, dando apoio às 10ª Divisão de Montanha e à direita o esquadrão de reconhecimento.

Às 13h, com o general Mascarenhas de Morais acompanhando a 2 km de distância, a tropa brasileira inicia o ataque à cidade de Montese sob um forte contra-ataque da artilharia alemã e tiro de sniper. A situação era uma novidade para os homens da FEB que até então haviam combatido em campo aberto nos montes da região dos Apeninos, enquanto que o combate urbano era feito casa a casa.

Basicamente, os alemães montavam armadilhas que atraiam um grupo de soldados para dentro de um casa ou sobrado para se abrigarem e eram recebidos por uma chuva de artilharia, graças aos observadores inimigos que denunciavam as posições. Inicialmente, os brasileiros acharam que tinha conquistado a posição sul da colina, contudo, logo perceberam que não seria uma batalha fácil.

No dia 15, os alemães continuaram o ataque com uso de artilharia pesada. Estima-se que dos 2.400 tiros de canhão disparados, cerca de 1.800 foram sobre tropas brasileiras. Além disso, a população civil foi a maior vítimas, com mais de 800 prédios destruídos de um total de 1.200 existentes na cidade, à época. Montese, literalmente, pegou fogo.

No terceiro dia, os aliados conquistaram o ponto estratégico e graças ao esforço brasileiro, a cidade de Montese estava livre. As marcas ficaram nas paredes das casas e até da praça pública, onde a fonte de água ficou crivada de balas. Os brasileiros foram bem recebidos pelos civis italianos, que naquela altura da guerra queriam se ver livres dos alemães.

Foram feitos mais de 450 prisioneiros e do lado brasileiro foram 453 baixas, sendo 34 mortos e os demais feridos ou desaparecidos. Entre os mortos estavam dois potiguares, José Varela e Manoel Lino Paiva, naturais de Ceará Mirim e Martins, respectivamente.

A ofensiva da Primavera é tida como um marco na libertação da Europa, sendo o início de uma série de batalhas que se seguiram até 8 de maio, dia da Vitória na Europa. Essa vitória representa muito mais para o Exército do Brasil, pois a conduta dos homens deixaram marcas profundas no povo italiano, que de certa forma, até os dias atuais, são gratos aos pracinhas brasileiros. É muito comum ouvir o relato de famílias italianas que enxergavam nos soldados da FEB uma certa benevolência, quando lhe davam alimentos e agasalhos, sem cobrar em troca.