Há 80 anos, 25 mil brasileiros partiram para a Itália, em plena Segunda Guerra Mundial, com a missão de ajudar na libertação da Europa ocupada pelo nazifacismo e em defesa da democracia. Esse esforço foi concretizado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Para celebrar o feito, a 7ª Brigada de Infantaria Motorizada do Exército Brasileiro (7ª Bda Inf Mtz – EB) realizará em Natal/RN uma série de eventos, entre os dias 16 e 20 de setembro.
A programação começará na segunda-feira, 16, às 9 horas, quando está previsto a execução de uma salva de tiro encenado no 17º Grupamento de Artilharia e Campanha (17 GAC), com um canhão similar ao utilizado pelos brasileiros na guerra: o Obuses M101 de 105 mm. A artilharia foi uma peça fundamental para a FEB durante os combates na Itália, marcada pelo primeiro tiro de canhão de uma tropa brasileira fora do continente sul-americano.
Já na terça-feira, 17, acontece também no Complexo Cultural Rampa, a partir das 8 horas, o Simpósio FEB: 80 Anos de Glória 1944 – 2024, com palestras durante todo o dia. A participação é aberta ao público com vagas limitadas, por isso precisa fazer a inscrição no link (clique aqui).
Por fim, na sexta-feira, 20, às 18 horas, na Praça Pedro Velho haverá apresentação das bandas militares da Marinha, Exército e Polícia Militar do RN e da Orquestra Filarmônica da Universidade Federal do RN (UFRN).
O evento conta com apoio do Governo do RN, PMRN, CBMRM, Prefeituras de Natal e Parnamirim, UFRN, IHGRN, Sistema Fecomércio, Sesc e Senac RN, Fiern, Sebrae, Gallopin Ghost e A Caserna.
A Força Expedicionária Brasileira
Em agosto de 1943, um ano após a declaração de guerra, nasce no papel a Força Expedicionária Brasileira (FEB), por meio da Portaria Ministerial nº 4744. O comando foi dado ao general Mascarenhas de Moraes e a ideia inicial era convocar 75 mil inscritos, o equivalente a três divisões, mas este número chegou a 25 mil soldados – entre homens e mulheres – das mais diversas regiões do Brasil, sendo 358 deles potiguares.
Em julho de 1944, o Primeiro Escalão da FEB deixou o porto do Rio de Janeiro para um destino incerto, pois o alto comando não revelou em qual cenário seria o combate. Momentos antes de desembarcar, que a tropa soube que seria a Itália, uma das portas de entrada dos aliados para a libertação da Europa.
Ao todo, foram nove meses de atuação com histórias de superação, vitórias, mortes, batalhas, improvisos, causos, fatos pitorescos e tudo que uma guerra revela.
Desembarque em Nápoles – Em 16 de julho de 1944, o Primeiro Escalão da FEB com mais de 5 mil homens desembarca no porto de Nápoles, na Itália. O transporte ocorreu em navio de transporte de tropas americano, o USS General Mann, durante 14 desconfortáveis dias, sob o medo constante de torpedeamento, o mal-estar de uma viagem marítima e o treinamento constante de evacuação. Além da rotina militar e os exercícios, foi providenciado atividades de lazer com direito a jogos e cinema para distrair a tropa.
Batalha de Monte Castelo – Em 21 de fevereiro de 1945, depois de três meses de combate e quatro tentativas frustradas, as tropas brasileiras conquistaram o cume do Monte Castelo que vinha sendo defendido pelo Exército Alemão e impondo derrotas aos aliados. Para a conquista, foram doze horas de combate e parte de uma campanha coordenada entre as forças aliadas em outras montanhas da região, que impediam o avanço em direção ao norte da Itália. Os soldados brasileiros enfrentaram o frio, as balas e artilharia dos alemães, e apesar de não ser o embate mais sangrento, a vitória foi significativa para a moral da tropa e se tornou um símbolo da campanha brasileira na Segunda Guerra Mundial.
Batalha de Montese – Em 14 de abril de 1945, a FEB participou de uma importante investida militar ao lado da 10ª Divisão de Montanha dos EUA. O alvo dos brasileiros era a cidade Montese que foi conquistada após dois dias de intenso combate, casa por casa, rua por rua, com pelotões avançando com auxílio da artilharia, até a retirada dos alemães. A tomada foi importante, pois representou o rompimento do último ponto de resistência nas montanhas no vale do Reno.
Rendição da 148ª D.I. – Nos dias finais de combate na Europa, na região de Fornovo, os brasileiros protagonizaram um fato histórico ao participarem diretamente da rendição de toda uma divisão de infantaria alemã. Em 27 de abril, com a ajuda de um padre local, foi enviado um pedido para que os alemães se rendessem e assim evitar um massacre desnecessário. Na noite do dia 28 de abril, o major Kuhn compareceu a um posto de comando da FEB, representando o general Otto Fretter-Pico. Em espanhol declarou que os alemães não dispunham mais de meios para lutar e estavam dispostos a depor armas. Foi dada a ordem de cessar-fogo contra o inimigo e cerca de 14 mil homens da 148ª Divisão de Infantaria, 90ª Divisão de Infantaria Mecanizada e unidades italianas se entregaram. Até aquele momento, nenhuma divisão alemã havia se rendido integralmente para outra unidade aliada.
Pistoia – Ao final dos nove meses de atuação da FEB na Itália, cerca de 460 homens tinham morrido em combate e necessitavam ser recolhidos e sepultados. Esta missão era do Pelotão de Sepultamento que tinha embarcado poucos dias após o Primeiro Escalão e mantinham na frente de combate postos de coleta. Inicialmente, os mortos foram levados para os cemitérios de Tarquinia e outros mantidos pelo Exército dos EUA. Para agilizar os procedimentos necessários, transporte, liberação e ritos fúnebres, foi pensado em um cemitério próprio para os brasileiros, montado em Pistoia, criado em 2 de dezembro de 1944. Em outubro de 1960, por iniciativa do governo brasileiro, esses restos mortais foram trazidos ao Brasil ao Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, localizado no Rio de Janeiro. Em Pistoia ficou o soldado desconhecido no pós-guerra e o antigo cemitério se tornou o Monumento Votivo Militar Brasileiro, que até hoje é ponto de visitação.
Heróis Potiguares – Entre os quase 460 mortos em combate da FEB, seis deles eram do Rio Grande do Norte: Belmiro Ferreira da Silva, Cosme Fontes Lira, José Varela, Manoel Lino de Paiva, Rodoval Cabral da Trindade e Wilson Viana Barbosa.
Desmobilização – Com o fim da guerra na Itália, o futuro da FEB era incerto. Era esperado que os brasileiros permanecem na Europa como tropa de ocupação, contudo, o Governo Vargas tratou logo de tomar a decisão de encerrar as atividades e desmobilizar contingente, separando unidades e desarmando-as. Como a FEB tinha lutado a favor da democracia e libertação da Itália que vivia sob o Fascismo e Nazismo, havia o temor que esses ideais incentivasse a derrubada do regime Vargas, tido como uma ditadura.