Há 80 anos, no dia 8 de maio de 1945, o mundo se via livre, oficialmente, do nazismo e a data passou a ser conhecida como Dia da Vitória na Europa. Provavelmente, Natal/RN foi uma das poucas cidades no planeta onde o fim da guerra representou um sentimento de incerteza e até tristeza.
Essa afirmação carece uma explicação, pois parece até uma “fake news” como diríamos nos dias atuais. Desde 1941, com a chegada dos primeiros norte-americanos e a inserção maciça do dólar na economia local, a cidade vivia um tempo de crescimento econômico e prosperidade. Em dados estatísticos e para efeito de comparação, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1940 a 1950, identificou que Natal/RN possuía cerca de 45 mil habitantes, enquanto João Pessoa contava com quase 80 mil. Já no censo seguinte (1950 a 1960), esses números representam 160 mil e 150 mil, respectivamente.
O desenvolvimento econômico e a geração de emprego por conta da base aérea de Parnamirim Field explicam o crescimento populacional e talvez um dos mitos mais repetidos, que 100 mil americanos – há quem diga 50 mil e outros até 200 mil – estiveram em Natal de uma única vez, quando na verdade, o registro são de 50 mil em 6 anos.
Voltando ao dia 8 de maio. Cronologicamente, um dia antes – 7 de maio – é assinada a rendição incondicional da Alemanha, na sede do Quartel-General Aliado, na França. Esse documento começou a ser discutido em janeiro de 1943, no encontro que aconteceu no Marrocos, entre Franklin Roosevelt e Winston Churchill. De acordo com os termos, a rendição entraria em vigor a partir das 23h01, do dia 8 de maio.
O anúncio nas rádios aconteceram ainda no dia 7, informando a todos do fim da guerra na Europa. Em Natal, a primeira reação foi de alegria e festa, com manifestações populares, missa em ação de graças na Catedral e encontro de passeatas vindas da Ribeira e Alecrim, concentradas no Grande Ponto, o cruzamento das avenidas Rio Branco e João Pessoa, com direito a apresentação da banda da Polícia Militar. Um detalhe dessa cena chama atenção conforme foi descrita no Jornal A Ordem, de 9 de maio, em que o céu noturno da cidade ficou iluminado pelos potentes refletores da defesa antiaérea.
Isso é o que temos registrado, agora vamos tratar dos relatos orais. Ao longo dos anos, este redator conversou com diversos natalenses que conviveram com os americanos durante os anos de 1940 e era mais do que comum ouvir relatos de incerteza quanto ao consumo no comércio. Vale explicar que os “gringos” pagavam o que consumiam nas lojas em dólar, sem qualquer preocupação em fazer a transformação cambial. Desta maneira, os produtos eram oferecidos em Cruzeiros e era vendidos em Dólar, quando a diferença era de quase 1 para 18. Explicando grosseiramente, na prática, se uma água mineral era colocada na prateleira custando 1 Cruzeiro, o americano pagavam 1 Dólar, e o comerciante recebia na verdade 18 Cruzeiros.
Além disso, o aumento no número de pessoas na cidade – além dos militares os que procuravam emprego ou empreender – causou a escassez de moradia e prédios comerciais, pois quase todos estavam locados.
Por causa disso, muitos comerciantes não escondiam a tristeza com o anúncio do fim da guerra em Natal, bem diferente do que aconteceu no resto do mundo, principalmente na Europa, onde milhões morreram e passaram por situação de fome e miséria. Talvez a ausência de combates e situações mais difíceis em território brasileiro, tenham causado esse sentimento de nostalgia entre os natalenses, principalmente, entre comerciantes e empreiteiros. Ao final desse post, colocamos o vídeo Natal Encruzilhada do Mundo, produzido pela Fundação Rampa, o qual conta esse relato, em 1 hora e oito minutos.
Cronologia do Dia da Vitória:
30 de abril de 1945:
- Adolf Hitler comete suicídio em seu bunker em Berlim, junto com Eva Braun.
- Ele nomeia o almirante Karl Dönitz como seu sucessor (Presidente do Reich) e Joseph Goebbels como Chanceler (Goebbels se suicida no dia seguinte).
1º de maio de 1945:
- Goebbels e sua esposa também se suicidam após matarem seus seis filhos no bunker.
- Tropas soviéticas tomam completamente o Reichstag e consolidam o controle sobre Berlim.
- Rádio de Hamburgo anuncia a morte de Hitler.
2 de maio de 1945
- Berlim se rende oficialmente às forças soviéticas. O general alemão Helmuth Weidling, comandante da defesa da cidade, entrega as armas.
4 de maio de 1945
- Rendição das forças alemãs no noroeste da Europa (Dinamarca, Países Baixos, noroeste da Alemanha) ao marechal britânico Bernard Montgomery.
5 e 6 de maio de 1945
- Combates esparsos continuam em algumas regiões.
- Tropas americanas e soviéticas fazem contato em várias partes da Alemanha e da Tchecoslováquia.
7 de maio de 1945
- Assinatura da rendição incondicional da Alemanha em Reims (França), na sede do Quartel-General Aliado.
- O general Alfred Jodl, representando Dönitz, assina a rendição perante os Aliados ocidentais.
- A rendição entra em vigor às 23h01 do dia 8 de maio, horário da Europa Central.
8 de maio de 1945
- Dia da Vitória na Europa (V-E Day)
- Fim oficial da guerra na Europa.
- Celebrado no Reino Unido, Estados Unidos, França e outros países como o Dia da Vitória (Victory in Europe Day).
- Porém, os soviéticos exigem uma nova cerimônia formal de rendição em Berlim.
Por que a Rússia celebra o Dia da Vitória em 9 de maio?
- A rendição assinada em Reims foi considerada insatisfatória pelos soviéticos, pois queriam que a capitulação ocorresse em Berlim, onde estava o principal front soviético e simbolicamente mais relevante.
- Assim, em 8 de maio à noite (já 9 de maio no horário de Moscou), uma nova rendição foi assinada em Karlshorst, Berlim, na presença do marechal Georgy Zhukov, representante da URSS.
- Devido ao fuso horário, quando a rendição entrou oficialmente em vigor às 23h01 na Europa Central, já era 00h01 de 9 de maio em Moscou.
- Por isso, a União Soviética (e atualmente a Rússia) celebra o “Dia da Vitória” em 9 de maio.
Vídeo Natal Encruzilhada do Mundo: