Nesta sexta-feira, 29 de novembro, a Força Aérea Brasileira (FAB) pretende lançar ao espaço um foguete suborbital do tipo VS30, dentro da operação “Potiguar”, como uma etapa do aumento da autonomia do Brasil em relação as atividades espaciais, a partir do Centro de Lançamento Barreira do Inferno (CLBI), em Parnamirim/RN. Há exatos 40 anos, algo similar também aconteceu no local.
Estamos falando do lançamento do foguete “Sonda IV”, totalmente projetado e construído no Brasil, e um marco na história do programa espacial brasileiro, que contou com a presença do então presidente da República, João Figueiredo. Esse equipamento fez parte do projeto Sonda, que desenvolveu quatro modelos, I, II, III e IV, lançados em 1967, 1970, 1976 e 1984, respectivamente.
Após o lançamento, o “Sonda IV” teria alcançado seu apogeu aos 8 minutos de voo, a 611 quilômetros (km) de altura, caindo a 300 km da costa, atingindo 11.000 km/h e caindo no mar após 15 minutos.
Apesar do veículo transportar uma carga útil, a recuperação do material ocorreu em outra etapa da operação, contudo, o disparo foi considerado um sucesso dentro dos parâmetros para o qual o foguete foi projetado e com os dados do voo sendo transmitidos à terra por sensores. Esse experimento na CLBI seria fundamental para o desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélite (VLS), bem como os lançamentos envolvendo o “Sonda III”.
VS30 x Sonda IV
VS30 | Sonda IV | |
Comprimento (m) | 7,9 | 11 |
Peso total (kg) | 1500 | 7200 |
Velocidade (km/h) | 6000 | 11000 |
Tempo de voo (min) | 6,3 | 15 |
Altitude (km) | 150 | 600 |
CLBI – Centro de Lançamento Barreira do Inferno
Mais de três mil lançamentos entre treinamentos e missões reais, além de 265 eventos de rastreio de veículos espaciais realizados. Esses são alguns dos números que tornam o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), localizado em Parnamirim (RN), tão importante para o setor aeroespacial brasileiro.
Subordinado ao Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), da Força Aérea Brasileira (FAB), o CLBI reúne em torno de 250 militares e servidores civis que atuam em projetos avançados e de valor estratégico para o país. Entre eles, estão engenheiros, pesquisadores e técnicos focados em contribuir para o desenvolvimento de soluções científico-tecnológicas no campo do poder aeroespacial.
Em atividade desde 1965, o Centro de Lançamento possui, hoje, estrutura voltada às atividades de rastreio de objetos espaciais. De acordo com o diretor da unidade, Coronel Aviador Christiano Pereira Haag, os lançamentos sempre ocorreram no CLBI, que, durante a Potiguar, alcança a marca de 3.084 veículos lançados em quase seis décadas. “Esta missão representa um salto para a organização, que reativará sua capacidade de atuar com lançamentos suborbitais e poderá concorrer às demandas de mercado do segmento”, enfatiza.
Rastreio
Uma das principais vocações do CLBI, o rastreio de foguetes tem como personagem essencial a Estação de Telemedidas. No local, responsável por receber todos os parâmetros relacionados ao veículo lançado, equipe e sistema trabalham para traduzir os dados e, assim, acompanhando o foguete, saber se ele está cumprindo a direção determinada, da maneira planejada.
Conforme o engenheiro Clecio de Oliveira Godeiro, chefe da Estação de Telemedidas do CLBI, o Centro desempenha um papel fundamental tanto nas atividades realizadas em Parnamirim quanto no rastreio de foguetes orbitais enviados ao espaço a partir da Guiana Francesa. “Nós acompanhamos os veículos entre o sétimo e o 12º minuto após o lançamento. Todas as informações que recebemos nesse intervalo repassamos em tempo real, identificando problemas importantes, por exemplo”, explica.
Vantagens do CLBI
O CLBI tem uma localização geográfica privilegiada, estando próximo à Base Aérea de Natal (BANT), que possui capacidade para receber aeronaves de grande porte, e dos aeroportos e portos de Natal (RN) e de João Pessoa (PB). Dessa forma, oferece facilidades logísticas, uma vez que é possível fazer o transporte de cargas, equipamentos e materiais frágeis envolvidos nos lançamentos, quando necessário. Outro fator importante é a proximidade com o Oceano Atlântico, o que garante segurança às operações.
Primeiros foguetes
Em dezembro de 1965, ocorreu o primeiro lançamento de um foguete no Brasil, intitulado Nike Apache. O envio do veículo ao espaço a partir do CLBI foi considerado o “batismo de fogo espacial” no país, Depois, em 1967, o Centro lançou o Sonda I, primeiro veículo aeroespacial desenvolvido pelo Brasil, seguido por outros três, o Sonda II, o Sonda III e o Sonda IV, respectivamente em 1970, 1976 e 1984.
Por que Barreira do Inferno?
O Centro de Lançamento da Barreira do Inferno leva este nome por estar próximo às falésias localizadas em Ponta Negra, bairro da capital do Rio Grande do Norte, Natal. Conforme histórias contadas pelos pescadores locais, na época da criação do CLBI, os raios solares, ao nascer do dia, refletiam nos paredões íngremes e pareciam com labaredas de fogo. Por isso, diziam morar após a “barreira do inferno”, fazendo uma alusão às cores refletidas nas formações.
Fonte: Força Aérea Brasileira e Arquivo Nacional.