Durante a história de Natal algumas cenas ficaram marcadas em fotografia e a passagem do dirigível Graf Zeppelin, consideramos um desses momentos eternizados. Foi algo memorável e ficou na mente das pessoas, afinal de contas não era todos os dias que se via um objeto com mais de 230 metros de comprimento e 30 m de diâmetro pairando sobre a cidade.
Há 95 anos, em 28 de maio de 1930, a população de Natal parou e olhou para o céu para ver essa enorme estrutura, em forma de charuto e se movendo lentamente movida a cinco motores. Era o LZ-127 “Graf Zeppelin”, o mundialmente famoso Conde Zeppelin que estava deixando a América do Sul, após dez dias de viagem, desde a sua partida na Alemanha.

Há época, a imponência do Zeppelin servia como uma propaganda do vanguardismo e superioridade alemã, o que foi potencializado a partir de 1933, quando o regime nazista chegou ao poder e o veículo se tornou um meio de propaganda móvel do regime totalitário, um símbolo da potência econômica e do avanço tecnológico daquele país. O conceito do dirigível como meio de transporte era bem aceito e. até então, como seguro apesar dos riscos já conhecidos e colocados em segundo plano diante do sucesso das travessias transatlânticas e focado no conforto, mesmo diante da baixa procura comercial. Os aparelhos contavam com amplos porões de carga e camarotes cercados de luxo, similar aos dos navios, sem o desconforto do balanço e lentidão do mar.
No fim dos anos 1920, a nave já tinha feito uma travessia pelo Atlântico Norte, mas restava uma rota pelo hemisfério Sul, com a possibilidade de chegar à Argentina, passando pelo Brasil. Essa viagem foi anunciada oficialmente em fevereiro de 1930, com roteiro passando por: Friedrichshafen, Servilha (Espanha), Natal ou Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Cogitou-se ainda retornar pelo Norte, com a rota Brasil, Cuba e EUA.
Quem controlava os voos pelo mundo era a Luftschiffbau-Zeppelin GmbH e no Brasil tinha como representante a Syndicato Condor, uma subsidiária da Lufthansa, empresa aérea alemã com uma de suas estações em Natal/RN. Em 12 de fevereiro de 1930, o gerente da Condor, o senhor Ribeck Joachim Von confirmou ao Jornal do Brasil a viagem até São Paulo passando pela capital Rio de Janeiro, contudo, revelou não saber se o aparelho chegaria por Natal ou Recife. A empreitada era um verdadeiro desafio logístico, tendo em vista a necessidade de reabastecimento no Brasil com o “gás azul”, o Blaugas, um dos componentes essenciais na compensação da flutuabilidade. Além disso, tinha questões econômicas, pois a viagem não se pagava, o que era reconhecido pelos próprios dirigentes da empresa.
Já em 18 de fevereiro, o Ministério da Viação via Ministério da Fazenda autorizou a viagem do Zeppelin sobre o Brasil. Outra novidade que saiu na imprensa internacional foi o anúncio de Hugo Eckener e major Ernst Lehmann como comandante e piloto auxiliar, respectivamente. Em 22 de abril, a prefeitura do Recife autoriza a construção de um mastro de amarração no Campo do Jiquiá – ainda de pé nos dias atuais – que serviria de apoio operacional no momento do pouso. Em Natal, o aeromóvel não faria pouso, apenas uma passagem baixa.

Finalmente, em 18 de maio é confirmada a viagem para a América do Sul e no jornal A Ordem, o escritor Luís da Câmara Cascudo faz referência ao potiguar Augusto Severo, chamando-o de “avô do Zeppelin”, dando a ele o crédito pelo invento que proporcionou a dirigibilidade do balão e avanço da pesquisa aeronáutica que possibilitou a construção do dirigível. Severo morreu em 1902, em Paris, na França, após a explosão de seu balão Pax.

O Graf Zeppelin passa por Natal não em sua chegada à América, mas na sua despedida, após passar por Fernando de Noronha, Recife, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. E o grande dia chegou, em 28 de maio de 1930, por volta das 14 horas, a cerca de 400 metros de altura surgiu sobre a cidade do Natal aquela enorme estrutura voadora, num passeio que durou 10 minutos e teve como ponto alto a homenagem prestada à Severo. O comandante do LZ-127 “Graf Zeppelin”, o experiente piloto Hugo Eckener ordena que o veículo paire sobre a Ribeira, exatamente na largo Augusto Severo, onde se encontra a estátua do aeronauta de mesmo nome, e joga uma coroa de flores do alto. Na coroa contava os dizeres: “Da Alemanha ao Brasil na pessoa do seu grande filho Augusto Severo”. O diretor da escola Frei Miguelinho e do Grupo de Escoteiros do Alecrim, o professor Luiz Soares recuperou a coroa, e mesma está em posse do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte (IGHRN), ainda nos dias atuais.

Sem dúvida a passagem do Graff Zeppelin foi um dos maiores acontecimentos da história de Natal e do Brasil, é tanto que ficou marcado na memória de muitos potiguares. Uma coisa que impressiona, até os dias atuais, aconteceu na passagem do veículo após 1933, quando o aparelho aéreo recebeu as marcas e símbolos do regime nazista, e como dissemos no início deste artigo, servia como objeto de propaganda do reich.
Natal voltaria a entrar na rota do Zeppelin e diferente da primeira viagem quando a cidade ficou como último destino, passou a ser a porta de entrada. Ao passar sobre a cidade, o balão não chegava a aterrissar, contudo, pairava sobre as instalações do Syndicato Condor, às margens do Rio Potengi na então praia da Limpa (ou Montagem), onde atualmente existe o 17º Grupamento de Artilharia e Campanha (17GAC), e jogava por uma corda as malas postais que vinham da Europa. Esse serviço pago se mostrava muito eficiente para quem precisava se comunicar com agilidade, pois em cerca de dez dias, as cartas deixavam a Alemanha e chegavam no Brasil. Depois de Natal, as malas postais eram colocadas em aviões da Condor e seguiam para o Rio de Janeiro, ganhando tempo no transporte.

Uma coisa que não é muito clara ou documentada é o motivo de Natal em alguns casos ser o primeiro destino da América do Sul ou quando era o último. O que podemos concluir é que isso dependia do interesse comercial da viagem, ou seja, quando haviam correspondências que precisavam chegar da Europa na América do Sul, seja Rio de Janeiro ou Buenos Aires, essa encomenda era descartada em Natal e daqui partia de avião para ser mais ágil e eficiente o serviço de correio aéreo. E ainda há registros de aviões partindo de Natal com destino a Ilha de Fernando de Noronha para encontrar navios em direção à Europa.

Um novo capítulo
Em janeiro de 1931, o retorno do Graff Zeppelin ao Brasil era uma incerteza, mas logo foi cessada a dúvida, com dois anúncios oficiais. O primeiro que haveria pelo menos três travessias do Atlântico Sul e a construção de uma segunda aeronave, ainda maior e mais veloz. As viagens desse ano seriam entre agosto e outubro. As viagens se repetem com sucesso e cada vez mais frequentes entre 1932 e 1936, chegando a mais de 30 no total.
O incremento se deu em 31 de março de 1936, com o ingresso do LZ-129 “Hidenburg” na linha da América do Sul, também passando por Natal, alternando a cada travessia com o “ Graf Zeppelin”. Essa viagem foi comandada por Ernst Lehmann, enquanto o veterano Hugo Eckner viajou como passageiro. Eckner havia se tornado um crítico do regime nazista sobretudo pelo uso do seu serviço como meio de propaganda, por isso, perdeu o comando das viagens transatlânticas, apesar de ser respeitado e tido como um dos contrutores do dirigível.
Um marco da passagem dos Zeppelin´s pelo Brasil é o grandioso hangar de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, construído onde hoje existe a Base Aérea de Santa Cruz (BASC), um ícone arquitetônico e histórico para o Brasil. O local é utilizado ainda nos dias atuais pela Força Aérea Brasileira (FAB).



E apesar de ser maior e mais veloz, o Hindenburg ficou mundialmente conhecido, infelizmente, devido ao desastre ocorrido em 6 de maio de 1937, nove meses após entrar em operação. A aeronave incendiou-se, por motivos até hoje não esclarecidos, com 61 tripulantes e 36 passageiros a bordo. Desses, faleceram 13 passageiros e 22 tripulantes, além de uma pessoa no solo.

Foi o fim de uma era.
Cerca de um mês após o trágico acidente, o LZ-127 foi retirado de serviço, enquanto o recém-construído LZ-130, batizado de “Graf Zeppelin II”, nunca chegou a entrar em serviço, Com a entrada da Alemanha na segunda guerra, o comandante da Luftwaffe, o marechal Hermann Goering ordenou o desmonte das naves e a utilização do metal na fabricação de aviões de combate. O LZ-127 Graf Zeppelin foi desmontado em 1940, por decisão do Marechal do Reich Hermann Goering e sua carcaça foi usada na construção de aviões de guerra.
Um serviço eficiente
Um questionamento sobre a eficiência do uso do Zeppelin pode ser respondido com uma outra pergunta. Quantos dias demora atualmente para se enviar e receber uma correspondência entre o Brasil e a Europa?
Em 1932, a resposta para essa pergunta: três dias, graças ao Zeppelin. Neste ano, seis viagens foram anunciadas, três delas entre abril e maio e outras três no segundo trimestre. A viagem de agosto chegou a ser antecipada em seis dias, partindo de Friedrichshafen em 23 de agosto e chegando ao Recife em 26 do mesmo mês. A segunda viagem, teria o mesmo roteiro, mas partiria dia 18/9 e chegaria no dia 21/9. A terceira não teve data divulgada naquele momento.
Um produto e uma marca de sucesso
Ciente do sucesso da primeira passagem do “Graf Zeppelin”, quando enormes filas de carros e pessoas se formaram no Campo do Jiquiá, em Recife/PE, a empresa Luftschiffbau-Zeppelin GmbH viu a possibilidade lucrar com isso. Na viagem de setembro de 1931, foram comercializados bilhetes para visitar o balão enquanto ele estivesse ancorado, com valores entre 3$000 (três mil réis) e 5$000 (cinco mil réis). E quem desejava embarcar em direção ao Sul do País, bastava desembolsar 2.000$000 (Dois mil contos de réis).

Ficha Ténica
D-LZ127 “Graf Zeppelin”
Comprimento: 236,5 metros (m)
Diâmetro: 30 m
Volume: 105 000 m³
Motorers: 5x motores Maybach a pistão com 550hp cada
Velocidade de cruzeiro: 128 km/h
Carga útil: 60 000kg
Ocupantes: 60
Tripulação: 40
Passageiros: 20
D-LZ129 “Hindenburg”
Comprimento: 245 m
Diâmetro: 41,8 m
Volume: 200 000 m³
Motor: 4x Darmier-Benz 1200 HP cada
Velocidade: 135 km/h
Ocupantes: 97
Passageiros: 36
Tripulantes: 61
OBS: Explodiu em 1937
Rota:
18 de maio – Parte da Alemnha (Friedrichshafen)